História da 'mulher do peso', que lutou contra desnutrição infantil em Carpina, vira filme e estreia no Recife
10/05/2025
(Foto: Reprodução) Documentário sobre Dona Zeta, dirigido pela filha dela, Mery Lemos, mostra como voluntárias sem formação ajudaram mulheres periféricas a enfrentar a mortalidade de crianças. Imagem do documento 'A Mulher do Peso' mostra Dona Zeta com a bolsa que ela costurou para pesar crianças desnutridas em Carpina, no interior de Pernambuco.
Mery Lemos/Divulgação
Pesar crianças, medir a altura, ensinar a fazer soro caseiro e explicar sobre o calendário de vacinação. Muito antes de existirem agentes comunitários de saúde em Carpina, cidade da Zona da Mata Norte de Pernambuco localizada a 45 quilômetros do Recife, era Maria José de Lemos Sabino, a Dona Zeta, que fazia esse trabalho e ajudava outras mulheres da periferia a enfrentarem a desnutrição e a mortalidade infantil.
Na véspera do Dia das Mães, o documentário "A mulher do peso", que conta a história de Dona Zeta e foi dirigido pela filha dela, Mery Lemos, tem uma sessão de estreia no Cinema São Luiz, localizado na Rua da Aurora, no bairro da Boa Vista, no Centro do Recife, às 18h deste sábado (10).
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Sem formação em medicina ou enfermagem, Dona Zeta aprendeu na prática como trabalhar com assistência social ao ingressar, na década de 1980, como voluntária na Pastoral da Criança, que integra a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e presta assistência a crianças e gestantes.
Por mais de 30 anos, ela visitou milhares de famílias de Carpina com um caderninho para anotar as informações de cada menino e menina, uma balança e uma bolsa, que ela mesmo costurou, onde essas crianças eram pesadas. Por causa do trabalho, ela ficou conhecida no município como "a mulher do peso".
"A maior felicidade do mundo era quando eu saia para fazer o trabalho da Pastoral da Criança. Ir nas casas, pegando as crianças, medindo, orientando", contou ao g1 Dona Zeta, hoje aos 76 anos.
Muitos desses meninos e dessas meninas que encontrou pela primeira vez ainda pequenos, de saúde frágil, Dona Zeta reviu, depois, já adultos.
"Hoje em dia está tudo bem. Desenvolveu o organismo, né? Que vivia morrendo de fome, e a gente fazia aqueles trabalhos de paçoca, de farinha, farelo. Distribuía aqueles alimentos. E as crianças foram se levantando. E, até hoje, ninguém vê mais falar em criança doente, não", lembra Dona Zeta.
Os números comprovam esse cenário. Segundo o Observatório da Criança e do Adolescente da Fundação Abrinq, a taxa de mortalidade infantil em Carpina caiu de 45,1 em 1995 para 10 em 2023.
Dona Zeta e Mery Lemos em cena do documentário 'A mulher do peso', sobre o combate à desnutrição infantil em Carpina, na Zona da Mata de Pernambuco.
Mery Lemos/Divulgação
De acordo com a diretora do filme, as voluntárias eram donas de casa, de origem humilde como as mulheres que elas encontravam no dia a dia. Dona Zeta vivia na Comunidade da Vila, no bairro de Santo Amaro, em Carpina. Após passar por capacitação, porém, elas conseguiam conscientizar outras famílias sobre saúde básica, reaproveitamento de alimentos e nutrição.
Como o filme mostra, depois, na década de 1990, essas mesmas mulheres foram recrutadas para trabalhar como agentes comunitárias de saúde.
"Acho superimportante contar essa história porque foi uma pequena grande revolução desses movimentos que aconteceram na década de 1980, que salvaram muitas vidas de criança. E eu sempre achei que essa história merecia mais destaque; que a gente tem que estar sempre narrando essas mulheres nesses lugares da revolução", afirmou Mery.
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