Como Israel contornou defesa aérea, atingiu instalações nucleares e matou autoridades do Irã
16/06/2025
(Foto: Reprodução) Especialistas apontam que operação em outubro de 2024 fez com que iranianos perdessem capacidade de defender o território. Orçamento militar menor e enfraquecimento de aliados também contribuem para superioridade israelense. Fumaça sobe de uma explosão após os ataques israelenses ao Irã, em Teerã, neste domingo (15).
Hamid Amlashi/Reuters
Os ataques de Israel no conflito com o Irã --- que começou na última sexta-feira (13) e continua nesta segunda (16) --- já somam 224 mortes, incluindo a de líderes militares e cientistas iranianos. Mesmo diante de retaliação por parte de Teerã, especialistas apontam vantagem das forças israelenses ao realizarem ataques que conseguem contornar a defesa aérea iraniana, matar autoridades e atingir instalações nucleares.
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Os ataques de Israel:
Mataram líderes militares como Hossein Salami, chefe da Guarda Revolucionária Islâmica, Mohammad Kazem, chefe de inteligência da corporação, Mohammad Bagher, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas do Irã;
Mataram, também, cientistas considerados essenciais para os programas nucleares e de mísseis em ações secretas realizadas por comandos treinados pelo Mossad;
Atingiram a principal usina nuclear do Irã, Natanz, destruindo toda a infraestrutura elétrica, os geradores emergenciais de energia e uma seção onde o urânio era enriquecido. Houve danos significativos às instalações nucleares de Isfahan
Conseguiram destruir uma aeronave de abastecimento no extremo leste do Irã, a 2,3 mil km – alvo mais distante até aqui.
Atingiram diversos bairros da capital iraniana, Teerã;
E deixaram 224 mortos, incluindo civis.
Os ataques do Irã deixaram danos menores. Desde o início do conflito, 22 pessoas morreram em Israel, e não há registros de ataques de grande porte bem-sucedidos contra instalações ou comandantes militares.
Para especialistas, o conflito expõe a dificuldade de Irã em defender seu território e atacar o adversário.
Veja abaixo três fatores que contribuem para essa superioridade israelense até aqui.
Em 2024, Israel destruiu estruturas de defesa aérea do Irã
Um dos fatores que permitiram a Israel construir a vantagem atual foi uma operação realizada em outubro de 2024.
À época, Israel lançou três ondas de ataques com foco em neutralizar baterias de defesa aérea iranianas, como o sistema S-300.
"O objetivo era degradar, essa capacidade defensiva do Irã, abrindo o caminho para ataques mais profundos no futuro", disse Vitelio Brustolin, pesquisador da Universidade de Harvard e professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Vitelio Brustolin.
Para Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais da ESPM, o episódio foi determinante para que Israel tivesse facilidade para penetrar o espaço aéreo iraniano.
"Se a gente quiser fazer uma frase: hoje, os céus iranianos são de Israel", afirmou o especialista em entrevista à GloboNews no domingo (15).
Estruturas de produção de mísseis foram atingidas, conta Brustolin.
"Israel destruiu equipamentos vitais para a produção de mísseis avançados (Fattah 1, Kheibar Shekan) (...) adiando o reabastecimento iraniano em meses ou até mais de um ano."
'Os céus iranianos são de Israel': especialista diz que Irã não tem como defender seu território da aviação israelense
Capacidade limitada de ataques
Em abril e outubro de 2024, o Irã realizou ataques contra Israel usando mísseis e drones.
Mas, como aponta o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS) – que há décadas estuda o poderio militar global –, as iniciativas mostraram "limitações desses sistemas tanto para penetrar sistemas defesa antimíssil avançados como para atingir a precisão necessária para causar danos significativos à infraestrutura militar".
O IISS aponta, ainda, que o resto das forças militares convencionais do Irã sofrem com obsolescência – especialmente na força área, que tem ficado desatualizada.
Alvo de sanções, o país depende da indústria local para abastecer suas necessidades, mas, embora eficiente em produzir alguns materiais militares avançados – o Irã, por exemplo, é um grande exportador de drones –, ela é incapaz de atender a todas as necessidades de armamentos.
Além disso, o orçamento militar do Irã, US$ 8 bilhões de dólares, é cerca doe 1/3 do israelense, US$ 34 bilhões, segundo o IISS.
Enfraquecimento de aliados
Segundo o cientista político Carlos Gustavo Poggio, o Irã enfrenta uma situação geopolítica delicada.
Isolado internacionalmente, com apoio limitado da Rússia — de quem depende para ter acesso a armas mais modernas, mas que está envolvida no confronto com a Ucrânia — e com milícias aliadas em colapso no Líbano, Iraque e Síria, Teerã vê sua influência regional diminuir.
O Hezbollah, grupo armado baseado no Líbano e um dos mais importantes aliados do Irã, foi alvo do Israel durante um conflito que se estendeu de 2023 e 2024. Nele, diversas lideranças do grupo libanês foram mortas, e estruturas – como fábrica de drones – foram destruídas.
A queda do regime de Bashar al-Assad, aliado-chave na Síria, comprometeu ainda mais suas rotas de abastecimento e apoio a grupos como o Hezbollah.
"O Irã está praticamente isolado nesta guerra do ponto de vista de aliados, tanto não estatais [como o Hezbollah], quanto aliados estatais. O apoio da Rússia certamente não é um apoio decisivo e mesmo que quisesse, a Rússia tem os seus próprios problemas com a guerra na Ucrânia, que tem sido muito mais custoso do que a Rússia havia antecipado", disse Poggio à GloboNews neste domingo.
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